quarta-feira, 14 de outubro de 2009

SÓCRATES E A EDUCAÇÃO





Quem foi Sócrates?


Sócrates é considerado um dos principais filósofos de toda a história da filosofia ocidental. Era filho de um escultor e de uma parteira. Em Atenas, recebeu uma educação clássica, que incluía ginástica, música e gramática. Pouco se sabe a respeito de sua juventude. Sócrates vivia de maneira humilde, percorrendo descalço as ruas de Atenas. Tornou-se o filósofo por excelência, "amigo do saber". Passou a ensinar em praça pública, sem cobrar pelos seus ensinamentos, ao contrário do que faziam os sofistas. Seu método consistia em fazer perguntas que conduziam o discípulo à descoberta da verdade. Sócrates reformulou a filosofia grega, fazendo com que a busca de conhecimento, antes centrada no estudo da natureza, passasse a ocupar-se do homem e das suas ações. Casou-se com Xantipa, mulher de temperamento difícil, e teve três filhos. Sócrates não viveu senão pelo diálogo, senão em e pelo contacto com o discípulo, sentia que qualquer obra escrita era incapaz de nos trazer aquilo que nos dá a palavra e o diálogo, em que dois seres vivos comunicam no seio dessa verdade que as suas presenças implicam. Pois é verdadeiramente na presença que o homem se encontra e pode aprender a conhecer-se, na presença, ou mais precisamente nesta compresença que o mestre e o discípulo descobrem aprofundando a mensagem que, através da sua linguagem e pelo seu diálogo, se apresenta pouco a pouco como uma reminiscência de uma verdade original no interior do qual eles se encontram os dois.

Assim a personagem de Sócrates precisa-se aos nossos olhos não «tal como ele foi» mas tal como ele é, não como alguém a reencontrar através dos documentos múltiplos e sempre demasiadamente ou não suficientemente eloquentes, mas como uma pessoa a descobrir em nós próprios. E é esta «existência» de Sócrates que deve permitir compreender o sentido da mensagem que Sócrates traz em si mesmo e em nós próprios, o sentido da relação entre o mestre e o discípulo.

O filósofo descalço

Sócrates é certamente o mais famoso e o mais fascinante dos filósofos e sua importância para a Filosofia é insuperável. Suas atitudes filosóficas e suas concepções de aprendizado são de conhecimento obrigatório e, assim, vamos iniciar agora aquela que talvez seja a mais proveitosa das leituras introdutórias deste curso.

Sócrates nasce em Atenas em 470 a.C., filho de um escultor e de uma parteira, e, sem nunca ter saído dessa cidade, morre em 399 a.C. e se torna, rapidamente, em um personagem quase lendário no Ocidente. A primeira coisa notável em Sócrates é sua figura: feio para os padrões gregos mas de enorme coragem – seus contemporâneos conheciam dele histórias de grande bravura em batalha – caminhava descalço e sereno pelas ruas, convocando para o diálogo jovens e velhos, homens e mulheres, nada cobrando pelos ensinamentos – diferentemente do que faziam os sofistas, a quem elegantemente combatia, como veremos. Enfim, Sócrates é figura popular e importante na vibrante Atenas do século V a.C.

Mártir da filosofia

Mais do que importante em sua Atenas, Sócrates é força transformadora incomparável, com sua influência sobre os jovens e sua capacidade de desmascarar falsos saberes e questionar velhas certezas e sólidos valores.

O resultado dessa atuação sistemática é um incômodo causado em atenienses poderosos, que acabará por provocar um processo por “corrupção da juventude”, no qual Sócrates faz altiva auto-defesa, registrada por seu discípulo Platão no texto Apologia de Sócrates. À ostensiva recusa de Sócrates a desmerecer sua própria atuação filosófica seguiu-se sua condenação à morte, que se efetivou com a forçada ingestão de cicuta, um poderoso veneno.

Uma das razões do incômodo que Socrates causava em seus conterrâneos é o fato de que apregoava ouvir dentro de si a voz de um daimon, que lhe aconselhava evitar certas ações e atitudes. Um daimon não é como um demônio cristão, mas, de qualquer modo, um homem que afirma ter dentro de si uma voz que lhe orienta é suficientemente incomum – seja no século IV a.C., seja hoje – para, no mínimo, despertar, em um e outro ouvinte, estranheza ou desconfiança. No caso de Sócrates, alguns atenienses o julgaram presunçoso por pretender ter dentro de si uma voz de sabedoria e outros entenderam que a afirmação da existência do daimon interior era uma atrevida mentira destinada a seduzir os jovens e a humilhar os cidadãos importantes.

O mais sábio cidadão ateniense

É fato que Sócrates freqüentemente desmascarava falsos saberes e falsos sábios, mas não o fazia da perspectiva de homem dotado de sabedoria superior: muito pelo contrário, seus desafios inquietantes sempre partiam da perspectiva do ignorante questionador, isto é, do homem que desconhece um assunto, não se envergonha disso e parte em busca decidida da verdade.

Sócrates gostava de contar que um discípulo seu tinha ido ao oráculo de Delfos – próximo a Atenas, onde o deus Apolo falava aos homens através de suas sacerdotisas – onde lhe fora solenemente revelado que o homem mais sábio dos atenienses era ... Sócrates.

Intrigado com a revelação mas certo de que do oráculo não saíam falsidades, Sócrates se perguntou porque ele, que tanto questionava e tanto colocava em dúvida, seria o mais sábio homem de Atenas. A resposta que encontrou: sou o mais sábio, sim, porque sou o único que sabe que nada sabe, o único que não fica presunçosamente apregoando ter conhecimentos inquestionáveis.

Uma atitude filosófica

Como se pode ver, o famoso bordão “Só sei que nada sei” não é uma declaração de ignorância total. Com ele, Sócrates quer, antes de mais nada, ironizar e combater os sofistas que vendiam seus saberes por Atenas e censurar-lhes a falta de autocrítica e a presunção.

Mas o que o bordão principalmente apregoa é uma atitude filosófica, que nosso Sócrates propõe sempre a seus discípulos: questionar permanentemente, investigar incansavelmente.

Assim, não era incomum que Sócrates encerrasse seus ensinamentos sem nada concluir, afastando-se e deixando que o discípulo prosseguisse sozinho no caminho que tinha iniciado a percorrer com o mestre.

Conheça-te a ti mesmo

A  rigor, é errado chamar de “ensinamentos” o que Sócrates oferecia a seus discípulos, porque, coerentemente com seu “Só sei que nada sei”, Sócrates afirmava nada poder ensinar a seus discípulos.

O que ele podia fazer, dizia, era purificá-los dos falsos saberes, para segui-la iniciar com eles o caminho em direção à verdade – que Sócrates, contrariando o relativismo dos sofistas, entendia existir em absoluto e ser alcançável. Este caminho é sempre o caminho do autoconhecimento, porque cada homem tem dentro de si, apesar de suas especificidades, a verdade única que pode compartilhar com todos seus companheiros.

Sócrates, como os sofistas, não é um filósofo da physys e, assim, suas preocupações recaem sobre temas tipicamente humanos como virtude, justiça, beleza e amor. É a verdade absoluta sobre cada uma das questões relativas ao homem que ele busca, em conjunto com seus discípulos, partindo do princípio de que as respostas existem e estão inscritas, por assim dizer, em cada uma das almas humanas.

Ironia e maiêutica

A primeira fase do percurso dialético caracteriza-se pela ironia, momento em que o mestre, com certeiras perguntas e comentários elegantemente jocosos, mira o cabedal de saberes e preconceitos do discípulo visando fazê-lo ruir.

Quando o discípulo, enfim, está purificado de seus preconceitos (ou pré-conceitos), Sócrates inicia a segunda fase, a maiêutica, ou “parto da verdade”. A mãe de Sócrates, de fato, foi parteira; e nosso filósofo dizia que, enquanto sua mãe ajudava mulheres a parir crianças, ele, Sócrates, ajudava homens a trazer, de dentro de si mesmos, a verdade à luz.

Uma pedagogia com coerêcia

Note que a maiêutica, o “parto da verdade”, coaduna-se perfeitamente com o “só sei que nada sei”: o mestre nada ensina, o mestre nada introduz, porque a verdade já está dentro do discípulo.

E detalha com precisão o “conhece-te a ti mesmo”: esta não é uma recomendação de conhecer especificidades individuais – potencialidades, desejos ou temores próprios de cada um – mas uma exortação a trazer autonomamente á luz verdades universais, comuns a todos os homens, por um caminho incansável em que não há pretensos mestres a nos repetir supostas verdades.

Como se pode ver, o pensamento de Sócrates é de riqueza filosófica insuperável e de conhecimento obrigatório.

E, mais uma vez, é imperioso que se diga que nossas aulas, embora preparadas com muito cuidado, nunca são suficientes. É preciso – e aqui tenho certeza que Sócrates aprovaria, satisfeito – sempre ler mais, refletir, investigar.

O diálogo como método

Sócrates preferia sempre o diálogo. Costumava iniciar uma conversação fazendo perguntas e obtendo dessa forma opiniões do interlocutor, que ele aparentemente aceitava. Depois, por meio de um interrogatório hábil, desenvolvia as opiniões originais da pessoa arguida, mostrando a tolice e os absurdos das opiniões superficiais e levando e presumido possuidor da sabedoria a se desconcertar em face das consequências contraditórias ou absurdas das suas opiniões originais e a confessar o seu erro ou a sua incapacidade para alcançar uma conclusão satisfatória. Esta primeira parte do método de Sócrates, destinada a levar o indivíduo à convicção do erro, é a ironia. Depois, continuando a sua argumentação e partindo da opinião primitiva do interlocutor , desenvolvia a verdade completa. Sócrates deu a esta última parte a designação de maiêutica - a arte de fazer nascer as ideias. É este o método que encontramos amplamente desenvolvido nos diálogos socráticos de Platão.

Como purificar os discípulos dos falsos saberes e iniciar o percurso em direção à verdade? A resposta: pelo diálogo, na forma de uma seqüência de perguntas e respostas.

Este técnica de caminhar para o conhecimento através do diálogo, chamada “dialética”, tinha sido criada, segundo a tradição, por Zenon de Eléia, filósofo pré-socrático da cidade que tem como sobrenome.

O fato inquestionável é que o Sócrates o alçou à categoria de método rigoroso, com dois momentos bem demarcados, a ironia e a maiêutica.

Sócrates não viveu senão pelo diálogo, senão em e pelo contato com o discípulo, sentia que qualquer obra escrita era incapaz de nos trazer aquilo que nos dá a palavra e o diálogo, em que dois seres vivos comunicam no seio dessa verdade que as suas presenças implicam. Pois é verdadeiramente na presença que o homem se encontra e pode aprender a conhecer-se, na presença, ou mais precisamente nesta compresença que o mestre e o discípulo descobrem aprofundando a mensagem que, através da sua linguagem e pelo seu diálogo, se apresenta pouco a pouco como uma reminiscência de uma verdade original no interior do qual eles se encontram os dois. Assim a personagem de Sócrates precisa-se aos nossos olhos não tal como ele foi mas, tal como ele é. Não como alguém a reencontrar através dos documentos múltiplos e sempre demasiadamente ou não suficientemente eloquentes, mas como uma pessoa a descobrir em nós próprios. E é esta existência de Sócrates que deve permitir compreender o sentido da mensagem que Sócrates traz em si mesmo e em nós próprios, o sentido da relação entre o mestre e o discípulo.

Dialogar com Sócrates era submeter-se a uma “lavagem da alma” e a uma prestação de contas da sua própria vida, existem alguns testemunhos que reforçam a ideia que quem que esteja próximo a Sócrates e, em contacto com ele, põe-se a raciocinar, qualquer que seja o assunto tratado, é arrastado pelas espirais do diálogo e inevitavelmente é forçado a seguir adiante, até que, surpreendentemente, ver-se a prestar contas de si mesmo e do modo como vive, pensa e viveu.
Nesses aspectos sua influência tem sido tão ampla e é ainda tão poderosa quanto foi a influência das suas práticas nas escolas gregas daquele período.

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