terça-feira, 15 de dezembro de 2009

MUDANÇA CLIMÁTICA TEM PIORADO

Os impactos da mudança climática pioraram em quase todos os anos desde 1980 o que representa o aquecimento global.


O novo índice da mudança climática é baseado nas temperaturas do mundo, na extensão do gelo no Ártico no verão, na concentração de dióxido de carbono na atmosfera e no nível dos mares, disse o Programa Internacional Geosfera-Biosfera (IGBP).

"O sistema climático está mudando na direção do aquecimento do planeta", disse Sybil Seitzinger, diretora-executiva do IGBP, em entrevista coletiva durante a conferência sobre mudanças climáticas da ONU em Copenhague.

Ela disse que a intenção é apresentar uma fotografia instantânea do aquecimento global para ajudar a população a compreender as questões climáticas.

Seitzinger disse que cientistas usaram quatro fatores de fácil compreensão, repassados por governos, e negou qualquer favorecimento a elementos que possam influenciar as descobertas. O índice tem início em 1980, quando começaram os registros dos satélites.

De acordo com índice, a mudança climática piorou a cada ano desde 1980, exceto em 1982, 1992 e 1996, talvez devido à grande atividade vulcânica nesses anos que lançou poeira na atmosfera cobrindo o sol e diminuindo as temperaturas.

"A queda na curva em 1992 pode ter sido causada pela erupção do vulcão Pinatubo, nas Filipinas, em 1991", disse um comunicado. Outras erupções aconteceram no México em 1982 e em Monserrat em 1996.

No futuro, os cientistas podem expandir o índice para outros fatores, como desmatamento, acidez dos oceanos ou a frequência de eventos climáticos extremos, disse Seitzinger.

A BONDADE DO SER HUMANO X A BONDADE DE DEUS

O ser humano não é bom em sua essência, mas a bondade e a benignidade, juntas, provam que o cristão guiado pelo Espírito não vive mais a essência humana, mas a essência de DEUS.
Para as pessoas que crêem em JESUS, a bíblia não é mais um documento de acusação, mas sim uma carta de amor.

"NÓS FALAMOS MUITO SOBRE A LUTA CONTRA O PECADO, E POUCO SOBRE A LUTA A FAVOR DO AMOR; E HOJE VEM AO MEU ENCONTRO AS SEGUINTES PERGUNTAS:
SERÁ QUE O MEU AMOR ESFRIOU?
SERÁ QUE A HIPOCRISIA DESFIGUROU A MINHA VIDA?
O AMOR DE DEUS DEVE SER O GERADOR DE NOSSO COTIDIANO E O AMOR SÓ É VERDADEIRO QUANDO MOSTRA RESULTADOS.
O AMOR LIBERTA-NOS DE NÓS MESMOS, A FIM DE SERMOS LIVRES PARA AMAR AO PRÓXIMO E É O AMOR DE JESUS QUE NOS CONVOCA À ORAÇÃO E A OBEDIÊNCIA.

AME AO PRÓXIMO PORQUE VOCÊ É AMADO POR DEUS!

Ter misericórdia é mais do que ser solidário ou carinhoso; é mais do que importar-se com o próximo.
A misericórdia humana deve espelhar-se na misericórdia de DEUS, que se compadece e que acolhe.
O primeiro passo para ter um coração misericordioso é reconhecer-se alvo da misericórdia divina.
Quando aceitamos que não somos nada se não fosse o Senhor ter nos alcançado, nos amado e nos dado vida, fica mais fácil não julgar tanto os erros dos outros.
A benignidade é uma atitude interior. É quando nos incomodamos com a dor do próximo , quando deixamos de ser egoístas e nos preocupamos com os sentimentos , angústias e ansiedades dos outros. Quem tem o Espírito Santo age conforme Jesus agiu. Não se alegra na injustiça e nem busca a vingança; antes, entrega tudo ao Senhor que enxerga nosso futuro , que é mais sábio para tomar , por nós , as providências.

Em Provérbios 17:17 está escrito: " Em todo tempo ama ao amigo e na angústia nasce um irmão".

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

CÂMARA DE VEREADORES APROVA A NOVA LEI DOS MOTOTAXIS.

Nesta segunda-feira, dia 23 de novembro de 2009, a Câmara de Vereadores de Tucuruí, aprovou por unanimidade, a nova lei que regulamenta o serviço de mototáxi em Tucurui.


A nova lei, aumentou o número de mototáxis que era de 386 para 550, contemplando assim as outras duas associações de mototáxis até então consideradas como clandestinas.

A adição no número de mototáxis apesar de parecer ter aumentado, nada mais fez que legalizar os clandestinos organizados em associações. A nova lei proibe o serviço prestado por auxiliares dos mototaxis que dobrava o número de trabalhadores na função.

Os profissionais que exerciam outras atividades poderão continuar a exercer a função de mototaxi desde que ele mesmo trabalhe na moto. Esse adendo à lei veio tranquilizar os funcionários públicos que exerciam paralelamente a função de mototaxi e que estavam preocupados em perder essa oportunidade que lhes permitiam dar uma qualidade de vida melhor para seus familiares.
Agora é nmecessário que o prefeito sancione a lei para que ela entre em vigor.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

PASTORES DE ALMAS, UMA ESPÉCIE EM EXTINÇÃO?

Há pouco tempo ouvi uma história a qual compartilho com vocês. Uma irmã (a qual, por questões obvias, não vou revelar o nome e igreja), passou pela seguinte experiência:


Em um final de culto, movida por um grave problema pessoal, ela procurou o seu pastor, no desejo de abrir o coração, pedindo-lhe que a ajudasse em aconselhamento pastoral. O pastor, sem poder ouvi-la naquele momento, até porque muita gente desejava lhe falar e, principalmente, cumprimentá-lo em virtude do "maravilhoso sermão "que havia pregado, solicitou à irmã que procurasse a secretaria da igreja e agendasse um encontro.

No dia seguinte a irmã procurou a secretaria, tentando agendar o encontro pastoral; no entanto, para sua surpresa, a secretária informou que o tal pastor não teria agenda livre para os próximos cinco meses, o que impossibilitaria o seu atendimento. A moça se desesperou, implorou, pediu pelo amor de Deus, mais nada pôde ser feito. A secretária explicou que o pastor tinha já agendado muitos encontros, jantares, viagens e conferências, as quais tinham que ser priorizadas, e que o máximo que ela poderia fazer seria encaixá-la num atendimento, quatro meses depois.

A moça saiu da igreja, naquela manhã de segunda-feira, pior do que entrara; na verdade, agora ela se sentia deprimida, desvalorizada e sem perspectiva alguma de ser ajudada em seu problema. O pastor, o qual ela pensava que poderia ajudá-la, infelizmente não poderia fazê-lo.

o tempo se passou e a moça desiludida, bem como desesperançosa, não fora mais à igreja. Para sua tristeza, ninguém, absolutamente ninguém, a procurara, querendo saber o motivo de sua ausência. Até que um dia, o pastor da igreja da qual fazia parte, encontrou-a na instituição bancária onde ela trabalhava. Ao vê-la, o pastor não esboçou nenhum comentário quanto à sua ausência; na verdade, a única coisa que falou, é que estava correndo em virtude da grande e complexa agenda.

Não sei o que você pensa e sente ao ler essa pequena história. Entretanto, quando soube do fato, fui tomado por uma grande perplexidade que me fez questionar sobre o papel pastoral nos dias de hoje. Aonde estão os pastores do povo de Deus? Aonde estão aqueles que por amor ao Rei, largam as 99 ovelhas e vão em busca de uma que se perdeu e sofre? Sem sombra de dúvidas, vivemos uma enorme crise de pessoalidade e afetividade na relação pastor-ovelha, isso porque, alguns dos ditos pastores se tornaram mega-stars da fé, imponentes pregadores, "Apóstolos desbravadores", além de "poderosos profetas". Junta-se a isso, o fato de que as mensagens pregadas nos púlpitos têm tido por fundamento o marketismo religioso, cujo conteúdo é humanista e secularizado. Infelizmente, sou obrigado a concordar que tais pastores têm se preocupado mais com a porta de entrada, do que com a porta de saída dos seus apriscos; mais com números do que com gente. Na verdade, ouso afirmar de que vivemos numa era onde as pessoas foram definitivamente coisificadas, onde seres humanos, criados a imagem e semelhança de Deus transformaram-se em gráficos e estatísticas.

Diante desta nebulosa perspectiva, sou tomado pela imprenssão de que essa geração necessita urgentemente de pastores de almas, de gente abnegada, que se preocupe com a dor do próximo e tenha prazer em cuidar da ovelha ferida. Para tanto, torna-se indispensável remodelar e reformar os conceitos pastorais desta geração, impregnando nos novos ministros, amor, compromisso e fidelidade para com Deus e seu Reino. Além disso, julgo também que seja imprescindível de que os pastores desse tempo, sejam plenamente comprometidos com a Santa Palavra de Deus, preocupando-se com o que ela diz, tomando-a como regra, bem como modelo de fé e comportamento para o seu ministério pessoal.Vale a pena lembrarmos daquilo que o reformador francês João Calvino costumava dizer quanto a Palavra de Deus. (1) "A Escritura é a fonte de toda a sabedoria, e os pastores devem extrair dela tudo aquilo que expõem diante do rebanho" (2) Calvino afirmava que através da exposição da Palavra de Deus, as pessoas são conduzidas a liberdade e a segurança da fé salvadora, dizia também que a verdadeira pregação, tem por objetivo abrir a porta do reino ao ouvinte, isto é, em outras palavras o que ele está a nos dizer, é que as Escrituras Sagradas, devem ser o principal instrumento na condução, consolidação e pastoreamento do povo de Deus.

No exercício de seu pastorado, Calvino dizia que a pregação pública deveria ser acompanhada por visitas pastorais. (3) Junta-se a isso o fato, de que ele sempre procurou encorajar pessoas sobrecarregadas, as quais não conseguiam encontrar consolo mediante sua própria aproximação de Deus, a procurarem seu pastor para aconselhamento particular e pessoal.

Conforme registro de um dos seus colegas pastores em Genebra, "(...) os que lhe procuravam eram recebidos com simpatia, gentileza e sensibilidade. Ele os atendia e prontamente lhes respondia as perguntas, mesmo as mais sérias delas. Sua sabedoria era demonstrada nas entrevistas particulares tanto quanto nas conversas públicas onde ele confortava os entristecidos e encorajava os abatidos...". [4].

"E, quando aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa da glória".(IPe.5:4)

Calvino também acreditava que o ensino, além de ser público nos cultos, deveria ser acompanhado por orientação pessoal e aplicado às circunstâncias específicas da vida de suas ovelhas. Atendia noivos que estavam se preparando para o casamento, pais que traziam seus problemas relacionados aos seus filhos, pessoas com dúvidas ou dificuldades doutrinárias, lutas com enfermidades, ouvia confissões de pecados, e a todos ele os recebia e levava o conforto e o encorajamento necessários. [5]

João 10:11 - O bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas.

Amados irmãos, ainda que os nossos dias, sejam diferentes dos dias dos reformadores, carregamos em nosso tempo as mesmas demandas pastorais. Nossas igrejas estão cheias de individuos em crise, de familias desestruturadas, além de pessoas que foram violentamente marcadas por satanás e o pecado. Ouso afirmar que neste tempo pós moderno, onde o relativismo tem mostrado as suas garras, necessitamos urgentemente de pastores preparados e capacitados, que amem a Deus acima de todas as coisas, e que se disponham a pastorear abnegadamente o rebanho de Cristo.

"Mas o mercenário, e o que não é pastor, de quem não são as ovelhas, vê vir o lobo, e deixa as ovelhas, e foge; e o lobo as arrebata e dispersa as ovelhas." (João 10:12)



Que Deus tenha misericórdia de seu povo e levante pastores segundo o seu coração.

(...) Adaptado por “Ormes de Paula”

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

NOSSA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS E SUA VERDADE CIENTÍFICA

 Muito se houve falar do investimento que os governos federal, estaduais e municipais fazem para erradicar o analfabetismo, principalmente de jovens e adultos que não puderam freqüentar a escola no seu devido tempo por motivos diversos como trabalho, doença, etc.
Muitos equívocos ou erros são cometidos quanto a alfabetização dos adultos. Nossos “técnicos dos currículos” tem a sua atuação voltada para o adulto como se sua aprendizagem fosse como a de uma criança que, com poucos esforços  estão prontos para seguirem o percurso da vida estudantil.
Esquecem que, quando atingimos a idade adulta, como provado cientificamente, dificuldades surgem. Podemos nos voltar para vários estudiosos do assunto para que possamos ver a realidade pregada e a realidade vivida.
O conceito de desenvolvimento e aprendizagem em Vygotsky é fundamental para a alfabetização de adultos porque deixa claro que a aquisição da escrita não se processa espontaneamente em ambientes culturais. Há necessidade da intervenção intencional, sistematizada, do profissional alfabetizador, em ambiente escolar.
O processo de desenvolvimento e o processo de aprendizagem, apesar de distintos, interagem na medida em que a aprendizagem, resultado da interação social, é internalizada e organizada, estimulando processos internos de desenvolvimento. Conseqüentemente, a aprendizagem é fundamental no desenvolvimento cognitivo.
Segundo Vygotsky, existem dois níveis de desenvolvimento: o nível de desenvolvimento real, que compreende as ações já internalizadas pelo alfabetizando, ou seja, é aquilo que ele já aprendeu ou já consegue fazer sozinho; e o nível de desenvolvimento potencial, que corresponde àquilo que o alfabetizando está em potencial de aprender no momento, ou melhor, àquilo que ele consegue aprender ou fazer com a ajuda de alguém. Entre estes dois níveis encontra-se a zona de desenvolvimento proximal, definidora daquelas “funções que ainda não amadureceram, mas que estão em processo de maturação, funções que amadurecerão, mas que estão presentemente em estado embrionário. Estas funções poderiam ser chamadas de “brotos” ou “flores” do desenvolvimento, ao invés de “frutos” do desenvolvimento” (Vygotsky, 1998-113) e é ali que o alfabetizador deve intervir, mediando o processo de aprendizagem, para que estas funções potenciais se tornem reais.
Vygotsky atribui à escola fundamental importância, bem como ao papel do professor no processo ensino-aprendizagem. A intervenção deliberada por parte do professor acelera o desenvolvimento de funções mentais, isto é, cria uma zona de desenvolvimento proximal. O desenvolvimento duma capacidade promove e auxilia o desenvolvimento de outra e isto ocorre através das interações no meio cultural em que vivem os indivíduos.
No estudo das relações entre pensamento e linguagem, Vygotsky (2000-133) afirma que “Para “descobrir” a linguagem é necessário pensar.” , isto é, porque o ser humano pensa, contrariamente aos animais que reagem instintivamente diante das situações, ele utiliza a linguagem como instrumento do pensamento. Durante a infância ou na idade adulta, os processos de internalização da linguagem se desenvolvem originando a fala interior e a fala egocêntrica como instrumentos de potencialização da fusão de pensamento e linguagem. É no campo do pensamento verbalizado que os adultos melhor planejam soluções diante de problemas, desenvolvendo a linguagem interior, “que é uma forma interna de linguagem, dirigida ao próprio sujeito e não a um interlocutor externo. É um discurso sem vocalização, voltado para o pensamento, com a função de auxiliar o indivíduo nas suas operações psicológicas.” OLIVEIRA (1997-51). Afirma Vygotsky que à atividade social interpsíquica, segue-se a atividade individualizada, intrapsíquica, ou seja, primeiro é desenvolvida a linguagem egocêntrica para depois desenvolver-se a linguagem interior. Embora este percurso tenha sido observado nas crianças, nosso acompanhamento a indivíduos adultos em fase de alfabetização, demonstrou o mesmo processo. A linguagem egocêntrica acompanha a atividade, indicando que os adultos, diante de dificuldades na aprendizagem, desenvolvem processos socializados consigo mesmos ou solicitando a mediação dos educadores. Até que, sentindo-se mais seguros nas atividades de oralidade, leitura e escrita, superavam as dificuldades utilizando-se da linguagem interior.
A percepção, a atenção e a memória, temas clássicos dos estudos em psicologia, mereceram atenção de Vygotsky na medida em que se articulam com a questão da mediação, da internalização, do desenvolvimento, do pensamento e da linguagem.
A percepção, capacidade de captar o mundo via órgãos sensoriais, torna-se cada vez mais complexa, na mesma proporção em que ocorrem as intervenções (escola, família, trabalho). Assim, o trânsito entre percepção simples e percepção complexa, exige conhecimento de mundo e inferências para estabelecer distância entre possibilidades físicas e possibilidades mentais.
A atenção, capacidade de perceber pontualmente o mundo, isto é, capacidade de se concentrar nisto ou naquilo selecionado dentre a gama de informações do ambiente, divide-se em dois tipos: voluntária e involuntária. Involuntariamente o indivíduo dedica atenção a “estímulos muito intensos (como ruídos fortes), mudanças bruscas no ambiente, objetos em movimento” (OLIVEIRA,1997-75), mas, ao longo do desenvolvimento, seleciona e concentrar-se naquilo que sua interação com o meio apontou como relevantes, é a atenção voluntária. Apesar de todo desenvolvimento humano, da capacidade de concentração e de seleção, a atenção involuntária permanece durante toda a vida.
A memória, capacidade de recuperação de experiências anteriores, será natural ou mediada dependendo das interações estabelecidas com o meio. A memória natural, tão elementar quanto a atenção involuntária e a percepção sensorial, origina-se na influência direta dos estímulos externos sobre os indivíduos. “A memória natural, na espécie humana, é semelhante à memória existente nos outros animais: refere-se ao registro não voluntário de experiências, que permite o acúmulo de informações e o uso dessas informações em momentos posteriores, na ausência das situações vividas anteriormente.” (OLIVEIRA,1997-76).
Já a memória mediada manifesta-se pela ação do indivíduo na busca de conteúdos específicos por meio de instrumentos e signos. Desde calendários, agendas e listas até experiências dolorosas ou felizes e regras mnemônicas servem como elementos para recuperação da lembrança e controle do comportamento.
As implicações pedagógicas seguintes foram tratadas por Oliveira, 2001, que cuidadosamente estabelece duas questões:
1ª) há complexa relação entre propostas teóricas e prática pedagógica porque os teóricos buscam consistência interna de suas formulações investindo em seu poder explicativo e não em seu potencial de geração de propostas de ação. Enquanto os educadores desejam extrair das teorias um “como fazer” eficiente, o que gera tensão entre teoria e prática.
2ª) há peculiaridades no texto de Vygotsky que tornam seu trabalho uma inspiração à reflexão, à realização de pesquisa em educação e à prática pedagógica.
A Educação de Adultos assume significativa importância, tanto pelo seu cunho político e social, como pedagógico, garantindo condições de desenvolvimento e aprendizagem através de interações estabelecidas entre o indivíduo e o meio físico, cultural e social. Sendo assim, o trabalho pedagógico a ser desenvolvido na Educação de Adultos deve partir das experiências dos alunos e considerar a aquisição e sistematização de conhecimentos.
A instrução escolar cria novas zonas de possibilidades para seus beneficiados, porque já está objetivado na sua estrutura um conhecimento científico, padronizado, produzindo algo de novo no curso do desenvolvimento de indivíduos que, antes disso, manuseavam apenas conhecimentos espontâneos. Também os companheiros de classe contribuem para aquisição de novas aprendizagens. O meio ambiente, o conhecimento e outras pessoas subsidiam constantemente o desenvolvimento das mesmas.
A escola organiza, planeja de maneira formal, científica, relacional os conhecimentos acumulados histórico-culturalmente pela humanidade, chamados por Vygotsky de conceitos científicos. Primeiramente, a escola não pode negar ou desrespeitar os conceitos cotidianos, isto é, avançar direto nos científicos sem ter observado deliberadamente os espontâneos, caso o faça, prejudicará o desenvolvimento intelectual do aluno significativamente.
Portanto, o processo de ensino-aprendizagem, é para Vygotsky uma dimensão social de grande valia. A escola tem um papel ativo, imprescindível na sociedade. Há dinamicidade no caráter da aprendizagem, o aprender causa nos indivíduos significativos processos para seu desenvolvimento psíquico. No aprender, a criança se desenvolve, seja na escola, um ambiente social formalizado, ou mesmo com os outros, momento informal. O aprender-desenvolver, dá-se de maneira dialética, porque há um desenrolar de circunstâncias que perpassam o indivíduo e a sociedade na sua trajetória histórico-cultural.
Aprendizagem se dá por imersão em ambientes culturais ou por intervenção pedagógica. E a escola é o “locus” criado para a transmissão dos conhecimentos acumulados pela humanidade, didaticamente organizados, por um educador que dirige o processo.
Para dar direção ao processo de aprendizagem os conceitos de nível de desenvolvimento real, nível de desenvolvimento potencial e zona de desenvolvimento proximal propostos por Vygotsky são essenciais, porque permite a compreensão do aluno como sujeito detentor de conhecimentos prévios que servirão de ponto de partida. É a internalização de novos conhecimentos que acionam mecanismos de desenvolvimento. Assim a aprendizagem e o desenvolvimento ocorrerão de forma eficaz com a intervenção do educador porque o indivíduo isolado não será capaz de fazê-lo. Como afirma Oliveira (1997-63) “A escola é um lugar social, onde o contato com o sistema de escrita e com a ciência enquanto modalidade de construção de conhecimento se dá de forma sistemática e intensa, potencializando os efeitos dessas outras conquistas culturais sobre os modos de pensamento.”
O processo de alfabetização inicia com a imersão do indivíduo na sociedade letrada. Em interação com outros e submetido às suas intervenções, o indivíduo desenvolve conceitos sobre a língua escrita, este objeto cultural que permite registrar; transmitir e recuperar idéias; informar e informar-se. Quando o adulto, em fase de alfabetização, diz “eu fazerei” ou repousa o lápis, no alto, do lado esquerdo da página para iniciar sua escrita, está demonstrando conhecimentos de conjugação verbal no tempo futuro dos verbos regulares e conhecimento de que a escrita da língua portuguesa se processa da esquerda para a direita e de cima para baixo.
As várias fases de imitação do formato externo da escrita: rabiscos, marcas topográficas, e outras estão superadas pelo adulto que deseja e tem condição de se apropriar do sistema convencional de escrita. Neste caso, a intervenção pedagógica mais ativa é aquela que trata a escrita como uma atividade natural do desenvolvimento, relevante, significativa e necessária.
E, como as práticas sociais são determinadas pela sociedade, pela cultura e pelas estruturas de poder, não se pode consolidar o mito da alfabetização que afirma serem os indivíduos não alfabetizados incapazes de desenvolver formas elaboradas de pensamento, mas também não se pode afirmar que a alfabetização e o letramento tenham pouca influência no desenvolvimento cognitivo.
Pode-se perceber que o conceito de letramento enquanto processo que considera a dimensão social, o significado da escrita para determinado grupo e o tipo de instituição freqüentada pelo indivíduo dá conta da formação de um cidadão consciente, crítico e transformador, que compartilhe do poder da língua escrita na sociedade letrada.
Quando se pretende alfabetizar alunos adultos deve-se considerar que já possuem conhecimentos sobre a linguagem escrita como representação da língua, o que torna possível a produção e o reconhecimento do sistema de escrita e dos diferentes tipos de textos.
O processo de alfabetização enquanto decodificação hierarquizada, isto é, aprendiam-se as letras; juntavam-nas, formando as sílabas; juntavam-se as sílabas, formando as palavras e as palavras em frases, foi superado com o conceito de letramento.
Objetivando descrever e explicar as funções psicológicas superiores e identificar os mecanismos cerebrais subjacentes a uma determinada função, sua história e contexto social, Vygotsky enfatiza o processo que envolve o desenvolvimento, apontando a mediação como fator fundamental nas relações de aprendizagem.
Na escola ocorre a sistematização, que produz algo fundamentalmente novo para o desenvolvimento do alfabetizando. Esta afirmação provoca a necessidade do alfabetizador trabalhar a partir de um diagnóstico, que identificará o nível de conhecimento em que se encontra o alfabetizando.
Outra afirmação importante na teoria de Vygotsky se refere à dimensão social que consolida os pressupostos da teoria interacionista.
Tal entende que o que os indivíduos pensam e o que acontece na vida de cada um afeta como se aprende cognitivamente. Assim o processo de aquisição da linguagem (alfabetização/letramento) iniciará quando o alfabetizando estiver inserido socialmente. Até mesmo os portadores, ou não, de deficiências físicas, como a surdez, ou mentais e que estiverem rodeados de pessoas, objetos e ações estimulantes do contato social por intermédio da linguagem serão capazes de formular regras de funcionamento da linguagem.
Para a teoria interacionista, o processo de alfabetização, isto é, aprender a ler e escrever, ocorrerá da mesma forma como ocorreu a aquisição da linguagem oral: os alfabetizandos deverão ser expostos a muitas situações significativas de linguagem, a muitos textos orais ou escritos. Para que eles, em percebendo a previsibilidade do funcionamento da língua, possam formular hipóteses e aplicá-las na escrita e na busca de sentidos.
A formulação de hipóteses é definida pela consideração de vários aspectos: quem fala, para quem fala, de onde fala e baseado em que cultura. Este ambiente lingüístico modifica o ambiente mental, dando origem a diversas estratégias para ler e de escrever.
O alfabetizador que concorda que o alfabetizando, quando chega à escola para aprender a ler e escrever, já conhece o mundo e já possui informações que possibilitam o desenvolvimento de estratégias de leitura e escrita e que objetiva contribuir para a formação de leitores, desenvolverá em sua prática os pressupostos da teoria interacionista. Respeitando princípios desenvolvidos por Vygotsky: 1- a compreensão é um processo e não um produto (ênfase no processo); 2- a interação é elemento prioritário (primazia da interação); 3- as respostas dos alfabetizandos devem ser consideradas no seu conteúdo (a aceitabilidade de respostas variadas); 4- o contexto e o seu significado devem ser observados como elementos de valor (a centrabilidade do contexto e semântica).
A alfabetização não deverá começar por unidades mínimas, como letras, sons, sílabas, que nada significam para os alfabetizandos.
Deverá iniciar por leituras significativas extraídas da cultura popular (como receitas, trovas, provérbios, músicas, propagandas, entre outros). Deverão ser trabalhados: a compreensão dos textos, os sistemas grafofônicos e sintáticos. O trabalho com estes sistemas permitirá que sejam trabalhadas as partes, isto é, as palavras, sílabas e letras, sempre vinculadas a outros conhecimentos e experiências anteriores.
Desta forma, a alfabetização/letramento poderá ser um meio para a mudança da sociedade, o professor alfabetizador, aquele profissional responsável pela orientação do momento mais importante na vida escolar dos cidadãos; contribuirá neste processo. Porque, uma vez alfabetizado, dominando a escrita e a leitura será possível o exercício da cidadania. Não só no discurso, mas também, na prática, o cidadão alfabetizado exercita o direito de ir e vir, analisa o contexto em que está inserido, reconhecendo ali as limitações impostas e propõe formas de superação.
Paulo Freire (1987:08) afirma: “E aprender a ler, a escrever, alfabetizar-se é, antes de mais nada, aprender a ler o mundo, compreender o seu contexto, não numa manipulação mecânica de palavras mas numa relação dinâmica que vincula linguagem e realidade. Ademais, a aprendizagem da leitura e a alfabetização são atos de educação e educação é um ato fundamentalmente político”.
BIBLIOGRAFIA:
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 20ª ed., São Paulo: Cortez, 1987.OLIVEIRA, Marta Kohl de. Pensar a Educação: Contribuições de Vygotsky. In: CASTORINA, José Antonio et al. Piaget – Vygotsky: Novas contribuições para o debate. 6ªed., São Paulo: Ática, 2001. Cap. 2, p.51-83.OLIVEIRA, M. K. de. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento, um processo sócio-histórico. 4ª ed., São Paulo: Scipione, 1997. REGO, Teresa Cristina. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. 14ª ed., Petrópolis,RJ:Vozes, 2002.VYGOTSKY, Lev Semenovich. A formação social da mente. São Paulo:Martins Fontes, 1998.VYGOTSKY, Lev Semenovich. A construção do pensamento e da linguagem.

São Paulo:Martins Fontes, 2000.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

HIPÓCRATES - O DESPERTAR DA MEDICINA

Hipócrates viveu no século V a.C. e determinou normas de comportamento para os médicos que são válidos em todas as épocas, sejam quais forem os progressos da ciência.


A ele são atribuídos os seguintes escritos: O juramento, Tratado sobre o Mal Sagrado, Os Ares, as Águas e os Lugares, O Prognóstico, o primeiro e terceiro livro do Tratado sobre Epidemias, A Medicina Antiga e os Aforismos.

A coleção Hipocrática está entre as primeiras obras que abordam a medicina como ciência natural e experimental.

Ele separou a medicina da filosofia, tirando-a do caminho da especulação abstrata para colocá-la na trilha do estudo racional. Em outras palavras, recorreu à razão para avaliar os dados extraídos da experiência.

Hipócrates estabeleceu os passos principais a serem seguidos pelo médico: primeiro, descobrir os sintomas ou sinais da doença; depois, o diagnóstico, ou seja, a identificação da moléstia; em seguida, a terapia, isto é, os meios de cura.

Entre as obras mais importantes do Corpus hippocraticum está o Tratado dos ares, das águas e dos lugares (século V a.C.) que, no invés de atribuir uma origem divina às doenças, discute suas causas ambientais. Sugere que considerações tais como o clima de uma população, a água ou sua situação num lugar em que os ventos sejam favoráveis são elementos que podem ajudar ao médico a avaliar à saúde geral de seus habitantes. Outras obras, como o Tratado do prognóstico e Aforismos, anteciparam a idéia, então revolucionária, de que o médico poderia predizer a evolução de uma doença mediante a observação de um número suficiente de casos.

A idéia da medicina preventiva, concebida pela primeira vez no Regime e no Regime nas doenças agudas, faz finca-pé não só na dieta, mas também no estilo de vida do paciente e em como ele influi sobre seu estado de saúde e convalescença. A doença sagrada, um tratado sobre a epilepsia, revela o conhecimento rudimentar da anatomia que imperava na antiga Grécia. Acreditava-se que sua causa era a falta de ar, transportada ao cérebro e às extremidades através das veias. No livro As Articulações, se descreve o uso do chamado banco hipocrático para o tratamento das luxações.

O médico mais importante da antiguidade é considerado o pai da medicina. Nascido provavelmente na ilha de Cos, na Grécia, realizou numerosas viagens antes de estabelecer-se definitivamente na ilha para dedicar-se ao ensino e à prática da medicina. Morreu em Larissa, na Grécia, e pouco mais se sabe dele. Seu nome se associa ao juramento hipocrático, embora é muito possível que não tenha sido ele o autor do documento. De fato, das quase setenta obras que formam parte do Corpus hippocraticum, é possível que só tenha escrito cerca de seis. O Corpus hippocraticum provavelmente é o único documento que existe da biblioteca médica da famosa Escola de Medicina de Cos. Seus ensinos, seu sentido de previsão e sua capacidade para a observação clínica direta quiçá influenciaram aos autores desses trabalhos e, sem dúvida, contribuíram em grande medida para eliminação da superstição da medicina antiga.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O SER HUMANO E SEU TEMPERAMENTO

Muitas vezes em nosso dia-a-dia, encontramos pessoas com as mais diferentes formas de agir. Daí, perguntamos: Qual a razão das pessoas serem tão diferentes umas das outras?
Desde os tempos mais remotos, vários estudos foram feitos no intuito de verificar as razões diferenciadas dos comportamentos e eis a resposta:
São quatro os temperamentos humanos descritos por Hipócrates, médico grego, que viveu entre 460 e 377 AC, relacionados com os quatro elementos: fogo, ar, água e terra, respectivamente.

Colérico ou Nervoso:

Relacionado ao fogo; é atribuído às pessoas ousadas, dinâmicas, líderes natos prontos a encarar desafios que, em desequilíbrio, tornam-se agressivas, ditadoras e orgulhosas. É um temperamento de impulso.

Sanguíneo:

Relacionado ao ar; é o temperamento dos curiosos, bem humorados, interessados em várias coisas ao mesmo tempo, desprendidos e que, em desequilíbrio, podem ser inseguros, instáveis, volúveis. É um temperamento de ação.

Fleumático ou linfático:

Relacionados à água;  são pessoas tranqüilas, lentas, concentradas, sonhadoras, com especial prazer em alimentar-se e que, em desequilíbrio, tendem à inércia física e mental, à obesidade e problemas digestivos. É um temperamento de sensação e sentimento.

Melancólico ou bilioso:
Relacionado ao elemento terra. São pessoas introspectivas, concentradas, que analisam a fundo os fatos e podem tornar-se pessimistas e deprimidas, quando em desequilíbrio. É um temperamento de pensamento.
Em cada pessoa predomina um dos quatro temperamentos, resultado de fatores genéticos e influências culturais, variando conforme sua situação em fase da vida. Todo ser humano possui as quatro tendências. O segredo para o equilíbrio do corpo e da alma é não permitir que uma das tendências se sobreponha excessivamente. Seja qual for o seu temperamento dominante, invista em aprender os outros aspectos para você ser mais saudável e harmônico.

Os quatro temperamentos e a alimentação

Linfático: alimentação mista, pendendo para carne; nada de álcool; sem abuso, um pouco de vinho nas refeições.

Sanguíneo: alimentação mista, pendendo para vegetariano e frugívora.

Nervoso: alimentação mista, pendendo para frutas e legumes.

Bilioso: alimentação mista, pendendo para frutas e legumes, mas evitando-se gorduras.

terça-feira, 27 de outubro de 2009




"Política e politicalha"

A importância do poder é tamanha que a história nos mostra que seus detentores sempre tentaram criar dispositivos para mantê-lo, valendo-se dos mais variados engenhos.
Embora a legislação e o processo eleitoral tenham se aperfeiçoado, no sentido de garantir ao cidadão a oportunidade de manifestar livremente sua vontade, há ainda que se combater o abuso do poder econômico, as falsas promessas e o uso da máquina pública por parte dos que ocupam o poder.
A democracia se define pelas liberdades que assegura aos cidadãos e pelos limites que impõe aos que exercem o poder. Como ainda estamos longe dessa realidade, nada mais atual do que as palavras do grande Rui Barbosa:
"A política afina o espírito humano, educa os povos no conhecimento de si mesmos, desenvolve nos indivíduos a atividade, a coragem, a nobreza, a previsão, a energia, cria, apura, eleva o merecimento.
Não é esse jogo da intriga, da inveja e da incapacidade, a que entre nós se deu a alcunha de politicagem. Esta palavra não traduz ainda todo o desprezo do objeto significado. Não há dúvida que rima bem com criadagem e parolagem, afilhadagem e ladroagem. Mas não tem o mesmo vigor de expressão que os seus consoantes.
Quem lhe dará com o batismo adequado? Politiquice? Politiquismo? Politicaria? Politicalha? Neste último, sim, o sufixo pejorativo queima como um ferrete, e desperta ao ouvido uma consonância elucidativa.
Política e politicalha não se confundem, não se parecem, não se relacionam uma com a outra. Antes se negam, se excluem, se repulsam mutuamente.
A política é a arte de gerir o Estado, segundo princípios definidos, regras morais, leis escritas, ou tradições respeitáveis. A politicalha é a indústria de explorar o benefício de interesses pessoais. Constitui a política uma função, ou o conjunto das funções do organismo nacional: é o exercício normal das forças de uma nação consciente e senhora de si mesma. A politicalha, pelo contrário, é o envenenamento crônico dos povos negligentes e viciosos pela contaminação de parasitas inexoráveis. A política é a higiene dos países moralmente sadios. A politicalha, a malária dos povos de moralidade estragada."

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

VYGOTSKY - ÍCONE DO ESTUDO DO COMPORTAMENTO HUMANO


Lev S. Vygotsky (1896-1934) , professor e pesquisador foi contemporâneo de Piaget, e nasceu em Orsha, pequena cidade da Bielorrusia em 17 de novembro de 1896,  viveu na Rússia, quando morreu, de tuberculose, tinha 37 anos.

Construiu sua teoria tendo por base o desenvolvimento do indivíduo como resultado de um processo sócio-histórico, enfatizando o papel da linguagem e da aprendizagem nesse desenvolvimento, sendo essa teoria considerada histórico-social. Sua questão central é a aquisição de conhecimentos pela interação do sujeito com o meio.

As concepções de Vygotsky sobre o processo de formação de conceitos remetem às relações entre pensamento e linguagem, à questão cultural no processo de construção de significados pelos indivíduos, ao processo de internalização e ao papel da escola na transmissão de conhecimento, que é de natureza diferente daqueles aprendidos na vida cotidiana. Propõe uma visão de formação das funções psíquicas superiores como internalização mediada pela cultura.
As concepções de Vygotsky sobre o funcionamento do cérebro humano, colocam que o cérebro é a base biológica, e suas peculiaridades definem limites e possibilidades para o desenvolvimento humano. Essas concepções fundamentam  sua idéia de que as funções psicológicas superiores (por ex. linguagem, memória) são construídas ao longo da história social do homem, em sua relação com o mundo. Desse modo, as funções psicológicas superiores referem-se a processos voluntários, ações conscientes, mecanismos intencionais e dependem de processos de aprendizagem.
Mediação: uma idéia central para a compreensão de suas concepções sobre o desenvolvimento humano como processo sócio-histórico é a idéia de mediação: enquanto sujeito do conhecimento o homem não tem acesso direto aos objetos, mas acesso mediado, através de recortes do real, operados pelos sistemas simbólicos de que dispõe, portanto enfatiza a construção do conhecimento como uma interação mediada por várias relações, ou seja, o conhecimento não está sendo visto como uma ação do sujeito sobre a realidade, assim como no construtivismo e sim, pela mediação feita por outros sujeitos. O outro social, pode apresentar-se por meio de objetos, da organização do ambiente, do mundo cultural que rodeia o indivíduo.
A linguagem, sistema simbólico dos grupos humanos, representa um salto qualitativo na evolução da espécie. É ela que fornece os conceitos, as formas de organização do real, a mediação entre o sujeito e o objeto do conhecimento. É por meio dela que as funções mentais superiores são socialmente formadas e culturalmente transmitidas, portanto, sociedades e culturas diferentes produzem estruturas diferenciadas.
A cultura fornece ao indivíduo os sistemas simbólicos de representação da realidade, ou seja, o universo de significações que permite construir a interpretação do mundo real. Ela dá o local de negociações no qual seus membros estão em constante processo de recriação e reinterpretação de informações, conceitos e significações.
O processo de internalização é fundamental para o desenvolvimento do funcionamento psicológico humano. A internalização envolve uma atividade externa que deve ser modificada para tornar-se uma atividade interna, é interpessoal e se torna intrapessoal.
Usa o termo função mental para referir-se aos processos de: pensamento, memória, percepção e atenção. Coloca que o pensamento tem origem na motivação, interesse, necessidade, impulso, afeto e emoção.

A interação social e o instrumento lingüístico são decisivos para o desenvolvimento.
Existem, pelo menos dois níveis de desenvolvimento identificados por Vygotsky: um real, já adquirido ou formado, que determina o que a criança já é capaz de fazer por si própria, e um potencial, ou seja, a capacidade de aprender com outra pessoa.

A aprendizagem interage com o desenvolvimento, produzindo abertura nas zonas de desenvolvimento proximal ( distância entre aquilo que a criança faz sozinha e o que ela é capaz de fazer com a intervenção de um adulto; potencialidade para aprender, que não é a mesma para todas as pessoas; ou seja, distância entre o nível de desenvolvimento real e o potencial ) nas quais as interações sociais são centrais, estando então, ambos os processos, aprendizagem e desenvolvimento, inter-relacionados; assim,  um conceito que se pretenda trabalhar, como por exemplo, em matemática, requer sempre um grau de experiência anterior para a criança.
O desenvolvimento cognitivo é produzido pelo processo de internalização da interação social com materiais fornecidos pela cultura, sendo que o processo se constrói de fora para dentro. Para Vygotsky, a atividade do sujeito refere-se ao domínio dos instrumentos de mediação, inclusive sua transformação por uma atividade mental.
Para ele, o sujeito não é apenas ativo, mas interativo, porque forma conhecimentos e se constitui a partir de relações intra e interpessoais. 
É na troca com outros sujeitos e consigo próprio que se vão  internalizando conhecimentos, papéis e funções sociais, o que permite a formação de conhecimentos e da própria consciência. Trata-se de um processo que caminha do plano social - relações interpessoais - para o plano individual interno - relações intra-pessoais.
Assim, a escola é o lugar onde a intervenção pedagógica intencional desencadeia o processo ensino-aprendizagem.
O professor tem o papel explícito de interferir no processo, diferentemente de situações informais nas quais a criança aprende por imersão em um ambiente cultural. Portanto, é papel do docente provocar avanços nos alunos e isso se torna possível com sua interferência na zona proximal.
Vemos ainda como fator relevante para a educação, decorrente das interpretações das teorias de Vygotsky, a importância da atuação dos outros membros do grupo social na mediação entre a cultura e o indivíduo, pois uma intervenção deliberada desses membros da cultura, nessa perspectiva, é essencial no processo de desenvolvimento. Isso  nos mostra os processos pedagógicos como intencionais, deliberados, sendo o objeto dessa intervenção : a construção de conceitos.
O aluno não é tão somente o sujeito da aprendizagem, mas, aquele que aprende junto ao outro o que o seu grupo social produz, tal como: valores, linguagem e o próprio conhecimento.
A formação de conceitos espontâneos ou cotidianos desenvolvidos no decorrer das interações sociais, diferenciam-se dos conceitos científicos adquiridos pelo ensino, parte de um sistema organizado de conhecimentos. 

A  aprendizagem é fundamental ao desenvolvimento dos processos internos na interação com outras pessoas.
Ao observar a zona proximal, o educador pode orientar o aprendizado no sentido de adiantar o desenvolvimento potencial de uma criança, tornando-o real. Nesse ínterim, o ensino deve passar do grupo para o indivíduo. Em outras palavras, o ambiente influenciaria a internalização das atividades cognitivas no indivíduo, de modo que, o aprendizado gere o desenvolvimento. Portanto, o desenvolvimento mental só pode realizar-se por intermédio do aprendizado.

Vygotsky, teve contato com a obra de Piaget e, embora teça elogios a ela em muitos aspectos, também a critica, por considerar que Piaget não deu a devida importância à situação social e ao meio. Ambos atribuem grande importância ao organismo ativo, mas Vygotsky destaca o papel do contexto histórico e cultural nos processos de desenvolvimento e aprendizagem, sendo chamado  de socio-interacionista, e não apenas de interacionista  como Piaget.
Piaget coloca ênfase nos aspectos estruturais e nas leis de caráter universal ( de origem biológica) do desenvolvimento, enquanto Vygotsky destaca as contribuições da cultura, da interação social e a dimensão histórica do desenvolvimento mental.
Mas, ambos são construtivistas em suas concepções do desenvolvimento intelectual. Ou seja, sustentam que a inteligência é construída a partir das relações recíprocas do homem com o meio.

domingo, 18 de outubro de 2009

MORAL E ÉTICA - SINÔNIMOS?

ÉTICA
A palavra Ética é originada do grego ethos, que significa modo de ser, caráter. Através do latim mos (ou no plural mores), que significa costumes, derivou-se a palavra moral. Em Filosofia, Ética significa o que é bom para o indivíduo e para a sociedade, e seu estudo contribui para estabelecer a natureza de deveres no relacionamento indivíduo - sociedade.

Em Filosofia, o comportamento ético é aquele que é considerado bom, e, sobre a bondade, os antigos diziam que: o que é bom para a leoa, não pode ser bom à gazela. E, o que é bom à gazela, fatalmente não será bom à leoa. Este é um dilema ético típico.

Portanto, de investigação filosófica, e devidas subjetividades típicas em si, ao lado da metafísica e da lógica, não pode ser descrita de forma simplista. Desta forma, o objetivo de uma teoria da ética é determinar o que é bom, tanto para o indivíduo como para a sociedade como um todo. Os filósofos antigos adotaram diversas posições na definição do que é bom, sobre como lidar com as prioridades em conflito dos indivíduos versus o todo, sobre a universalidade dos princípios éticos versus a "ética de situação". Nesta, o que está certo depende das circunstâncias e não de uma qualquer lei geral. E sobre se a bondade é determinada pelos resultados da ação ou pelos meios pelos quais os resultados são alcançados.

O homem é um ser-no-mundo, que só realiza sua existência no encontro com outros homens, sendo que, todas as suas ações e decisões afetam as outras pessoas. Nesta convivência, nesta coexistência, naturalmente têm que existir regras que coordenem e harmonizem esta relação. Estas regras, dentro de um grupo qualquer, indicam os limites em relação aos quais podemos medir as nossas possibilidades e as limitações a que devemos nos submeter. São os códigos culturais que nos obrigam, mas ao mesmo tempo nos protegem.

Diante dos dilemas da vida, temos a tendência de conduzir nossas ações de forma quase que instintiva, automática, fazendo uso de alguma "fórmula" ou "receita" presente em nosso meio social, de normas que julgamos mais adequadas de serem cumpridas, por terem sido aceitas intimamente e reconhecidas como válidas e obrigatórias. Fazemos uso de normas, praticamos determinados atos e, muitas vezes, nos servimos de determinados argumentos para tomar decisões, justificar nossas ações e nos sentirmos dentro da normalidade.

As normas de que estamos falando têm relação como o que chamamos de valores morais. São os meios pelos quais os valores morais de um grupo social são manifestos e acabam adquirindo um caráter normativo e obrigatório. A palavra moral tem sua origem no latim "mos"/"mores", que significa "costumes", no sentido de conjunto de normas ou regras adquiridas por hábito. Notar que a expressão "bons costumes" é usada como sendo sinônimo de moral ou moralidade.
MORAL
A moral pode então ser entendida como o conjunto das práticas cristalizadas pelos costumes e convenções histórico-sociais. Cada sociedade tem sido caracterizada por seus conjuntos de normas, valores e regras. São as prescrições e proibições do tipo "não matarás", "não roubarás", de cumprimento obrigatório. Muitas vezes essas práticas são até mesmo incompatíveis com os avanços e conhecimentos das ciências naturais e sociais.
A moral tem um forte caráter social, estando apoiada na tríade cultura, história e natureza humana. É algo adquirido como herança e preservado pela comunidade.
Quando os valores e costumes estabelecidos numa determinada sociedade são bem aceitos, não há muita necessidade de reflexão sobre eles. Mas, quando surgem questionamentos sobre a validade de certos costumes ou valores consolidados pela prática, surge a necessidade de fundamentá-los teoricamente, ou, para os que discordam deles, criticá-los. Adolfo Sánchez VASQUEZ (1995, p. 15) coloca isso de forma muito clara:
Define-se Moral como um conjunto de normas, princípios, preceitos, costumes, valores que norteiam o comportamento do indivíduo no seu grupo social. Moral e ética não devem ser confundidos: enquanto a moral é normativa, a ética é teórica e busca explicar e justificar os costumes de uma determinada sociedade, bem como fornecer subsídios para a solução de seus dilemas mais comuns. Porém, deve-se deixar claro que etimologicamente "ética" e "moral" são expressões sinônimas, sendo a primeira de origem grega, enquanto a segunda é sua tradução para o latim.
A ética também não deve ser confundida com a lei, embora com certa frequência a lei tenha como base princípios éticos. Ao contrário do que ocorre com a lei, nenhum indivíduo pode ser compelido, pelo Estado ou por outros indivíduos, a cumprir as normas éticas, nem sofrer qualquer sanção pela desobediência a estas; por outro lado, a lei pode ser omissa quanto a questões abrangidas no escopo da ética.
Modernamente, a maioria das profissões têm o seu próprio código de ética profissional, que é um conjunto de normas de cumprimento obrigatório, derivadas da ética, freqüentemente incorporados à lei pública. Nesses casos, os princípios éticos passam a ter força de lei; note-se que, mesmo nos casos em que esses códigos não estão incorporados à lei, seu estudo tem alta probabilidade de exercer influência, por exemplo, em julgamentos nos quais se discutam fatos relativos à conduta profissional. Ademais, o seu não cumprimento pode resultar em sanções executadas pela sociedade profissional, como censura pública e suspensão temporária ou definitiva do direito de exercer a profissão.
Tanto “ethos” (caráter) como “mos” (costume) indicam um tipo de comportamento propriamente humano que não é natural, o homem não nasce com ele como se fosse um instinto, mas que é “adquirido ou conquistado por hábito” (VÁZQUEZ). Portanto, ética e moral, pela própria etimologia, diz respeito a uma realidade humana que é construída histórica e socialmente a partir das relações coletivas dos seres humanos nas sociedades onde nascem e vivem.
ética pode ser interpretada como um termo genérico que designa aquilo que é freqüentemente descrito como a "ciência da moralidade", seu significado derivado do grego, quer dizer 'Casa da Alma', isto é, suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja de modo absoluto.
O homem vive em sociedade, convive com outros homens e, portanto, cabe-lhe pensar e responder à seguinte pergunta: “Como devo agir perante os outros?”. Trata-se de uma pergunta fácil de ser formulada, mas difícil de ser respondida. Ora, esta é a questão central da Moral e da Ética. Enfim, a ética é julgamento do caráter moral de uma determinada pessoa. Como Doutrina Filosófica, a Ética é essencialmente especulativa e, a não ser quanto ao seu método analítico, jamais será normativa, característica esta, exclusiva do seu objecto de estudo, a Moral. Portanto, a Ética mostra o que era moralmente aceito na Grécia Antiga possibilitando uma comparação com o que é moralmente aceito hoje na Europa, por exemplo, indicando através da comparação, mudanças no comportamento humano e nas regras sociais e suas conseqüências, podendo daí, detectar problemas e/ou indicar caminhos.

Doutrina

Como Doutrina Filosófica, a Ética é essencialmente especulativa e, a não ser quanto ao seu método analítico, jamais será normativa, característica esta, exclusiva do seu objecto de estudo, a Moral. Portanto, a Ética mostra o que era moralmente aceito na Grécia Antiga possibilitando uma comparação com o que é moralmente aceito hoje na Europa, por exemplo, indicando através da comparação, mudanças no comportamento humano e nas regras sociais e suas conseqüências, podendo daí, detectar problemas e/ou indicar caminhos. Além de tudo ser Ético é fazer algo que te beneficie e, no mínimo, não prejudique o "outro".
Eugênio Bucci, em seu livro Sobre Ética e Imprensa, descreve a ética como um saber escolher entre "o bem" e "o bem" (ou entre "o mal" e o mal"), levando em conta o interesse da maioria da sociedade. Ao contrário da moral, que delimita o que é bom e o que é ruim no comportamento dos indivíduos para uma convivência civilizada, a ética é o indicativo do que é mais justo ou menos injusto diante de possíveis escolhas que afetam terceiros.

Visão

A ética tem sido aplicada na economia, política e ciência política, conduzindo a muitos distintos e não-relacionados campos de ética aplicada, incluindo: ética nos negócios e Marxismo.
Também tem sido aplicada à estrutura da família, à sexualidade, e como a sociedade vê o papel dos indivíduos, conduzindo a campos da ética muito distintos e não-relacionados, como o feminismo e a guerra, por exemplo.
A visão descritiva da ética é moderna e, de muitas maneiras, mais empírica sob a filosofia Grega clássica, especialmente Aristóteles.

Ética nas ciências

• Um assunto que é bastante polêmico é a clonagem: uma parte dos ativistas considera que, pela ética e bom senso, a clonagem só deve ser usada, com seu devido controle, em animais e plantas somente para estudos biológicos - nunca para clonar seres humanos.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Platão: importante filósofo grego da antiguidade





Platão 
Filho de uma família de aristocratas, começou seus trabalhos filosóficos após estabelecer contato com outro importante pensador grego: Sócrates. Platão torna-se seguidor e discípulo de Sócrates. Em 387 a.C, fundou a Academia, uma escola de filosofia com o propósito de recuperar e desenvolver as idéias e pensamentos socráticos. Convidado pelo rei Dionísio, passa um bom tempo em Siracusa, ensinando filosofia na corte.
Este importante filósofo grego  é considerado um dos principais pensadores gregos, pois influenciou profundamente a filosofia ocidental. Suas idéias baseiam-se na diferenciação do mundo entre as coisas sensíveis (mundo das idéias e a inteligência) e as coisas visíveis (seres vivos e a matéria).
Ao voltar para Atenas, passa a administrar e comandar a Academia, destinando mais energia no estudo e na pesquisa em diversas áreas do conhecimento: ciências, matemática, retórica (arte de falar em público), além da filosofia. Suas obras mais importantes e conhecidas são: Apologia de Sócrates, em que valoriza os pensamentos do mestre; O Banquete, fala sobre o amor de uma forma dialética; e A República, em que analisa a política grega, a ética, o funcionamento das cidades, a cidadania e questões sobre a imortalidade da alma.

Idéias de Platão para a educação
Platão valorizava os métodos de debate e conversação como formas de alcançar o conhecimento. De acordo com Platão, os alunos deveriam descobrir as coisas superando os problemas impostos pela vida. A educação deveria funcionar como forma de desenvolver o homem moral. A educação deveria dedicar esforços para o desenvolvimento intelectual e físico dos alunos. Aulas de retórica, debates, educação musical, geometria, astronomia e educação militar. Para os alunos de classes menos favorecidas, Platão dizia que deveriam buscar em trabalho a partir dos 13 anos de idade. Afirmava também que a educação da mulher deveria ser a mesma educação aplicada aos homens.
Diversamente de Sócrates , que era filho do povo, Platão nasceu em Atenas, em 428 ou 427 a.C., de pais aristocráticos e abastados, de antiga e nobre prosápia. Temperamento artístico e dialético - manifestação característica e suma do gênio grego - deu, na mocidade, livre curso ao seu talento poético, que o acompanhou durante a vida toda, manifestando-se na expressão estética de seus escritos; entretanto isto prejudicou sem dúvida a precisão e a ordem do seu pensamento, tanto assim que várias partes de suas obras não têm verdadeira importância e valor filosófico.
Aos vinte anos, Platão travou relação com Sócrates - mais velho do que ele quarenta anos - e gozou por oito anos do ensinamento e da amizade do mestre. Quando discípulo de Sócrates e ainda depois, Platão estudou também os maiores pré-socráticos. Depois da morte do mestre, Platão retirou-se com outros socráticos para junto de Euclides, em Mégara.
Daí deu início a suas viagens, e fez um vasto giro pelo mundo para se instruir (390-388). Visitou o Egito, de que admirou a veneranda antigüidade e estabilidade política; a Itália meridional, onde teve ocasião de travar relações com os pitagóricos (tal contato será fecundo para o desenvolvimento do seu pensamento); a Sicília, onde conheceu Dionísio o Antigo, tirano de Siracusa e travou amizade profunda com Dion, cunhado daquele. Caído, porém, na desgraça do tirano pela sua fraqueza, foi vendido como escravo. Libertado graças a um amigo, voltou a Atenas.
Em Atenas, pelo ano de 387, Platão fundava a sua célebre escola, que, dos jardins de Academo, onde surgiu, tomou o nome famoso de Academia. Adquiriu, perto de Colona, povoado da Ática, uma herdade, onde levantou um templo às Musas, que se tornou propriedade coletiva da escola e foi por ela conservada durante quase um milênio, até o tempo do imperador Justiniano (529 d.C.).
Platão, ao contrário de Sócrates, interessou-se vivamente pela política e pela filosofia política. Foi assim que o filósofo, após a morte de Dionísio o Antigo, voltou duas vezes - em 366 e em 361 - à Dion, esperando poder experimentar o seu ideal político e realizar a sua política utopista. Estas duas viagens políticas a Siracusa, porém, não tiveram melhor êxito do que a precedente: a primeira viagem terminou com desterro de Dion; na segunda, Platão foi preso por Dionísio, e foi libertado por Arquitas e pelos seus amigos, estando, então, Arquistas no governo do poderoso estado de Tarento.
Voltando para Atenas, Platão dedicou-se inteiramente à especulação metafísica, ao ensino filosófico e à redação de suas obras, atividade que não foi interrompida a não ser pela morte. Esta veio operar aquela libertação definitiva do cárcere do corpo, da qual a filosofia - como lemos no Fédon - não é senão uma assídua preparação e realização no tempo. Morreu o grande Platão em 348 ou 347 a.C., com oitenta anos de idade.
Platão é o primeiro filósofo antigo de quem possuímos as obras completas. Dos 35 diálogos, porém, que correm sob o seu nome, muitos são apócrifos, outros de autenticidade duvidosa.
A forma dos escritos platônicos é o diálogo, transição espontânea entre o ensinamento oral e fragmentário de Sócrates e o método estritamente didático de Aristóteles. No fundador da Academia, o mito e a poesia confundem-se muitas vezes com os elementos puramente racionais do sistema. Faltam-lhe ainda o rigor, a precisão, o método, a terminologia científica que tanto caracterizam os escritos do sábio estagirita.
A atividade literária de Platão abrange mais de cinqüenta anos da sua vida: desde a morte de Sócrates , até a sua morte. A parte mais importante da atividade literária de Platão é representada pelos diálogos - em três grupos principais, segundo certa ordem cronológica, lógica e formal, que representa a evolução do pensamento platônico, do socratismo ao aristotelismo .
Como já em Sócrates, assim em Platão a filosofia tem um fim prático, moral; é a grande ciência que resolve o problema da vida. Este fim prático realiza-se, no entanto, intelectualmente, através da especulação, do conhecimento da ciência. Mas - diversamente de Sócrates, que limitava a pesquisa filosófica, conceptual, ao campo antropológico e moral - Platão estende tal indagação ao campo metafísico e cosmológico, isto é, a toda a realidade.
Este caráter íntimo, humano, religioso da filosofia, em Platão é tornado especialmente vivo, angustioso, pela viva sensibilidade do filósofo em face do universal vir-a-ser, nascer e perecer de todas as coisas; em face do mal, da desordem que se manifesta em especial no homem, onde o corpo é inimigo do espírito, o sentido se opõe ao intelecto, a paixão contrasta com a razão. Assim, considera Platão o espírito humano peregrino neste mundo e prisioneiro na caverna do corpo. Deve, pois, transpor este mundo e libertar-se do corpo para realizar o seu fim, isto é, chegar à contemplação do inteligível, para o qual é atraído por um amor nostálgico, pelo eros platônico.
Platão como Sócrates, parte do conhecimento empírico, sensível, da opinião do vulgo e dos sofistas, para chegar ao conhecimento intelectual, conceptual, universal e imutável. A gnosiologia platônica, porém, tem o caráter científico, filosófico, que falta a gnosiologia socrática, ainda que as conclusões sejam, mais ou menos, idênticas. O conhecimento sensível deve ser superado por um outro conhecimento, o conhecimento conceptual, porquanto no conhecimento humano, como efetivamente, apresentam-se elementos que não se podem explicar mediante a sensação. O conhecimento sensível, particular, mutável e relativo, não pode explicar o conhecimento intelectual, que tem por sua característica a universalidade, a imutabilidade, o absoluto (do conceito); e ainda menos pode o conhecimento sensível explicar o dever ser, os valores de beleza, verdade e bondade, que estão efetivamente presentes no espírito humano, e se distinguem diametralmente de seus opostos, fealdade, erro e mal-posição e distinção que o sentido não pode operar por si mesmo.
Segundo Platão, o conhecimento humano integral fica nitidamente dividido em dois graus: o conhecimento sensível, particular, mutável e relativo, e o conhecimento intelectual, universal, imutável, absoluto, que ilumina o primeiro conhecimento, mas que dele não se pode derivar. A diferença essencial entre o conhecimento sensível, a opinião verdadeira e o conhecimento intelectual, racional em geral, está nisto: o conhecimento sensível, embora verdadeiro, não sabe que o é, donde pode passar indiferentemente o conhecimento diverso, cair no erro sem o saber; ao passo que o segundo, além de ser um conhecimento verdadeiro, sabe que o é, não podendo de modo algum ser substituído por um conhecimento diverso, errôneo. Poder-se-ia também dizer que o primeiro sabe que as coisas estão assim, sem saber porque o estão, ao passo que o segundo sabe que as coisas devem estar necessariamente assim como estão, precisamente porque é ciência, isto é, conhecimento das coisas pelas causas.
Sócrates estava convencido, como também Platão, de que o saber intelectual transcende, no seu valor, o saber sensível, mas julgava, todavia, poder construir indutivamente o conceito da sensação, da opinião; Platão, ao contrário, não admite que da sensação - particular, mutável, relativa - se possa de algum modo tirar o conceito universal, imutável, absoluto. E, desenvolvendo, exagerando, exasperando a doutrina da maiêutica socrática, diz que os conceitos são a priori, inatos no espírito humano, donde têm de ser oportunamente tirados, e sustenta que as sensações correspondentes aos conceitos não lhes constituem a origem, e sim a ocasião para fazê-los reviver, relembrar conforme a lei da associação.
Aqui devemos lembrar que Platão, diversamente de Sócrates, dá ao conhecimento racional, conceptual, científico, uma base real, um objeto próprio: as idéias eternas e universais, que são os conceitos, ou alguns conceitos da mente, personalizados. Do mesmo modo, dá ao conhecimento empírico, sensível, à opinião verdadeira, uma base e um fundamento reais, um objeto próprio: as coisas particulares e mutáveis, como as concebiam Heráclito e os sofistas . Deste mundo material e contigente, portanto, não há ciência, devido à sua natureza inferior, mas apenas é possível, no máximo, um conhecimento sensível verdadeiro - opinião verdadeira - que é precisamente o conhecimento adequado à sua natureza inferior. Pode haver conhecimento apenas do mundo imaterial e racional das idéias pela sua natureza superior. Este mundo ideal, racional - no dizer de Platão - transcende inteiramente o mundo empírico, material, em que vivemos.
Sócrates mostrara no conceito o verdadeiro objeto da ciência. Platão aprofunda-lhe a teoria e procura determinar a relação entre o conceito e a realidade fazendo deste problema o ponto de partida da sua filosofia.
A ciência é objetiva; ao conhecimento certo deve corresponder a realidade. Ora, de um lado, os nossos conceitos são universais, necessários, imutáveis e eternos (Sócrates), do outro, tudo no mundo é individual, contigente e transitório (Heráclito). Deve, logo, existir, além do fenomenal, um outro mundo de realidades, objetivamente dotadas dos mesmos atributos dos conceitos subjetivos que as representam. Estas realidades chamam-se Idéias. As idéias não são, pois, no sentido platônico, representações intelectuais, formas abstratas do pensamento, são realidades objetivas, modelos e arquétipos eternos de que as coisas visíveis são cópias imperfeitas e fugazes. Assim a idéia de homem é o homem abstrato perfeito e universal de que os indivíduos humanos são imitações transitórias e defeituosas.
Todas as idéias existem num mundo separado, o mundo dos inteligíveis, situado na esfera celeste. A certeza da sua existência funda-a Platão na necessidade de salvar o valor objetivo dos nossos conhecimentos e na importância de explicar os atributos do ente de Parmênides , sem, com ele, negar a existência do fieri. Tal a célebre teoria das idéias, alma de toda filosofia platônica, centro em torno do qual gravita todo o seu sistema.
As Idéias
O sistema metafísico de Platão centraliza-se e culmina no mundo divino das idéias; e estas contrapõe-se a matéria obscura e incriada. Entre as idéias e a matéria estão o Demiurgo e as almas, através de que desce das idéias à matéria aquilo de racionalidade que nesta matéria aparece.
O divino platônico é representado pelo mundo das idéias e especialmente pela idéia do Bem, que está no vértice. A existência desse mundo ideal seria provada pela necessidade de estabelecer uma base ontológica, um objeto adequado ao conhecimento conceptual. Esse conhecimento, aliás, se impõe ao lado e acima do conhecimento sensível, para poder explicar verdadeiramente o conhecimento humano na sua efetiva realidade. E, em geral, o mundo ideal é provado pela necessidade de justificar os valores, o dever ser, de que este nosso mundo imperfeito participa e a que aspira.
Visto serem as idéias conceitos personalizados, transferidos da ordem lógica à ontológica, terão consequentemente as características dos próprios conceitos: transcenderão a experiência, serão universais, imutáveis. Além disso, as idéias terão aquela mesma ordem lógica dos conceitos, que se obtém mediante a divisão e a classificação, isto é, são ordenadas em sistema hierárquico, estando no vértice a idéia do Bem, que é papel da dialética (lógica real, ontológica) esclarecer. Como a multiplicidade dos indivíduos é unificada nas idéias respectivas, assim a multiplicidade das idéias é unificada na idéia do Bem. Logo, a idéia do Bem, no sistema platônico, é a realidade suprema, donde dependem todas as demais idéias, e todos os valores (éticos, lógicos e estéticos) que se manifestam no mundo sensível; é o ser sem o qual não se explica o vir-a-ser. Portanto, deveria representar o verdadeiro Deus platônico. No entanto, para ser verdadeiramente tal, falta-lhe a personalidade e a atividade criadora. Desta personalidade e atividade criadora - ou, melhor, ordenadora - é, pelo contrário, dotado o Demiurgo o qual, embora superior à matéria, é inferior às idéias, de cujo modelo se serve para ordenar a matéria e transformar o caos em cosmos.
As Almas
A alma, assim como o Demiurgo, desempenha papel de mediador entre as idéias e a matéria, à qual comunica o movimento e a vida, a ordem e a harmonia, em dependência de uma ação do Demiurgo sobre a alma. Assim, deveria ser, tanto no homem como nos outros seres, porquanto Platão é um pampsiquista, quer dizer, anima toda a realidade. Ele, todavia, dá à alma humana um lugar e um tratamento à parte, de superioridade, em vista dos seus impelentes interesses morais e ascéticos, religiosos e místicos. Assim é que considera ele a alma humana como um ser eterno (coeterno às idéias, ao Demiurgo e à matéria), de natureza espiritual, inteligível, caído no mundo material como que por uma espécie de queda original, de um mal radical. Deve portanto, a alma humana, libertar-se do corpo, como de um cárcere; esta libertação, durante a vida terrena, começa e progride mediante a filosofia, que é separação espiritual da alma do corpo, e se realiza com a morte, separando-se, então, na realidade, a alma do corpo.
A faculdade principal, essencial da alma é a de conhecer o mundo ideal, transcendental: contemplação em que se realiza a natureza humana, e da qual depende totalmente a ação moral. Entretanto, sendo que a alma racional é, de fato, unida a um corpo, dotado de atividade sensitiva e vegetativa, deve existir um princípio de uma e outra. Segundo Platão, tais funções seriam desempenhadas por outras duas almas - ou partes da alma: a irascível (ímpeto), que residiria no peito, e a concupiscível (apetite), que residiria no abdome - assim como a alma racional residiria na cabeça. Naturalmente a alma sensitiva e a vegetativa são subordinadas à alma racional.
Logo, segundo Platão, a união da alma espiritual com o corpo é extrínseca, até violenta. A alma não encontra no corpo o seu complemento, o seu instrumento adequado. Mas a alma está no corpo como num cárcere, o intelecto é impedido pelo sentido da visão das idéias, que devem ser trabalhosamente relembradas. E diga-se o mesmo da vontade a respeito das tendências. E, apenas mediante uma disciplina ascética do corpo, que o mortifica inteiramente, e mediante a morte libertadora, que desvencilha para sempre a alma do corpo, o homem realiza a sua verdadeira natureza: a contemplação intuitiva do mundo ideal.
O Mundo
O mundo material, o cosmos platônico, resulta da síntese de dois princípios opostos, as idéias e a matéria. O Demiurgo plasma o caos da matéria no modelo das idéias eternas, introduzindo no caos a alma, princípio de movimento e de ordem. O mundo, pois, está entre o ser (idéia) e o não-ser (matéria), e é o devir ordenado, como o adequado conhecimento sensível está entre o saber e o não-saber, e é a opinião verdadeira. Conforme a cosmologia pampsiquista platônica, haveria, antes de tudo, uma alma do mundo e, depois, partes da alma, dependentes e inferiores, a saber, as almas dos astros, dos homens, etc.
O dualismo dos elementos constitutivos do mundo material resulta do ser e do não-ser, da ordem e da desordem, do bem e do mal, que aparecem no mundo. Da idéia - ser, verdade, bondade, beleza - depende tudo quanto há de positivo, de racional no vir-a-ser da experiência. Da matéria - indeterminada, informe, mutável, irracional, passiva, espacial - depende, ao contrário, tudo que há de negativo na experiência.
Consoante a astronomia platônica, o mundo, o universo sensível, são esféricos. A terra está no centro, em forma de esfera e, ao redor, os astros, as estrelas e os planetas, cravados em esferas ou anéis rodantes, transparentes, explicando-se deste modo o movimento circular deles.
No seu conjunto, o mundo físico percorre uma grande evolução, um ciclo de dez mil anos, não no sentido do progresso, mas no da decadência, terminados os quais, chegado o grande ano do mundo, tudo recomeça de novo. É a clássica concepção grega do eterno retorno, conexa ao clássico dualismo grego, que domina também a grande concepção platônica.
Moral
Segundo a psicologia platônica, a natureza do homem é racional, e, por conseqüência, na razão realiza o homem a sua humanidade: a ação racional realiza o sumo bem, que é, ao mesmo tempo, felicidade e virtude. Entretanto, esta natureza racional do homem encontra no corpo não um instrumento, mas um obstáculo - que Platão explica mediante um dualismo filosófico-religioso de alma e de corpo: o intelecto encontra um obstáculo nos sentidos, a vontade no impulso, e assim por diante. Então a realização da natureza humana não consiste em uma disciplina racional da sensibilidade, mas na sua final supressão, na separação da alma do corpo, na morte. Agir moralmente é agir racionalmente, e agir racionalmente é filosofar, e filosofar é suprimir o sensível, morrer aos sentidos, ao corpo, ao mundo, para o espírito, o inteligível, a idéia.
Em todo caso, visto que a alma humana racional se acha, de fato, neste mundo, unida ao corpo e aos sentidos, deve principiar a sua vida moral sujeitando o corpo ao espírito, para impedir que o primeiro seja obstáculo ao segundo, à espera de que a morte solte definitivamente a alma dos laços corpóreos. Noutras palavras, para que se realize a sabedoria, a contemplação, a filosofia, a virtude suma, a única virtude verdadeiramente humana e racional, é necessário que a alma racional domine, antes de tudo, a alma concupiscível, derivando daí a virtude da temperança, e domine também a alma irascível, donde a virtude da fortaleza. Tal harmônica distribuição de atividade na alma conforme a razão constituiria, pois, a justiça, virtude fundamental, segundo Platão, juntamente com a sapiência, embora a esta naturalmente inferior. Temos, destarte, uma classificação, uma dedução das famosas quatro virtudes naturais, chamadas depois cardeais - prudência, fortaleza, temperança, justiça - sobre a base da metafísica platônica da alma.
Quanto ao destino das almas depois da morte, eis o pensamento de Platão: em geral, o destino da alma depende da sua filosofia, da razão; em especial, depende da religião, dos mistérios órfico-dionisíacos. Em geral, distingue ele três categorias de alma:
1. ¾ As que cometeram pecados inexpiáveis, condenadas eternamente;
2. ¾ As que cometeram pecados expiáveis;
3. ¾ As que viveram conforme à justiça. As almas destas últimas duas categorias nascem de novo, encarnam-se de novo, para receber a pena ou o prêmio merecidos. Segundo o pensamento que lemos no Fédon, seria mister acrescentar uma quarta categoria de almas, as dos filósofos, videntes de idéias, libertados da vida temporal para sempre.
A Política
Os escritos em que Platão trata especificamente do problema da política, são a República, o Político e as Leis. Na República, a obra fundamental de Platão sobre o assunto, traça o seu estado ideal, o reino do espírito, da razão, dos filósofos, em chocante contraste com os estados e a política deste mundo.
Qual é, pois, a justificação da sociedade e do estado? Platão acha-a na própria natureza humana, porquanto cada homem precisa do auxílio material e moral dos outros. Desta variedade de necessidades humanas origina-se a divisão do trabalho e, por conseqüência, a distinção em classes, em castas, que representam um desenvolvimento social e uma sistematização estável da divisão do trabalho no âmbito de um estado. A essência do estado seria então, não uma sociedade de indivíduos semelhantes e iguais, mas dessemelhantes e desiguais. Tal especificação e concretização da divisão do trabalho seria representada pela instituição da escravidão; tal instituição, consoante Platão, é necessária porquanto os trabalhos materiais, servis, são incompatíveis com a condição de um homem livre em geral.
Segundo Platão, o estado ideal deveria ser dividido em classes sociais. Três são, pois, estas classes: a dos filósofos, a dos guerreiros, a dos produtores, as quais, no organismo do estado, corresponderiam respectivamente às almas racional, irascível e concupiscível no organismo humano. À classe dos filósofos cabe dirigir a república. Com efeito, contemplam eles o mundo das idéias, conhecem a realidade das coisas, a ordem ideal do mundo e, por conseguinte, a ordem da sociedade humana, e estão, portanto, à altura de orientar racionalmente o homem e a sociedade para o fim verdadeiro. Tal atividade política constitui um dever para o filósofo, não, porém, o fim supremo, pois este fim supremo é unicamente a contemplação das idéias.
À classe dos guerreiros cabe a defesa interna e externa do estado, de conformidade com a ordem estabelecida pelos filósofos, dos quais e juntamente com os quais, os guerreiros receberam a educação. Os guerreiros representam a força a serviço do direito, representado pelos filósofos.
À classe dos produtores, enfim, - agricultores e artesãos - submetida às duas precedentes, cabe a conservação econômica do estado, e, consequentemente, também das outras duas classes, inteiramente entregues à conservação moral e física do estado. Na hierarquia das classes, a dos trabalhadores ocupa o ínfimo lugar, pelo desprezo com que era considerado por Platão - e pelos gregos em geral - o trabalho material.
Na concepção ideal, espiritual, ética, ascética do estado platônico, pode causar impressão, à primeira vista, o comunismo dos bens, das mulheres e dos filhos, que Platão propugna para as classes superiores. Entretanto, Platão foi levado a esta concepção política - tornada depois sinônimo de imanentismo, materialismo, ateísmo - não certamente por estes motivos, mas pela grande importância e função moral por ele atribuída ao estado, como veículo dos valores transcendentais da Idéia. Tinha ele compreendido bem que os interesses particulares, privados, econômicos e, especialmente, domésticos, estão efetivamente em contraste com os interesses coletivos, sociais, estatais, sendo estes naturalmente superiores àqueles - eticamente considerados. E não hesita em sacrificar totalmente os interesses inferiores aos superiores, a riqueza, a família, o indivíduo ao estado, porquanto representa precisamente - consoante seu pensamento - um altíssimo valor moral terreno, político-religioso, como única e total expressão da eticidade transcendente.
Se a natureza do estado é, essencialmente, a de organismo ético-transcendente, a sua finalidade primordial é pedagógico-espiritual; a educação deve, por isso, estar substancialmente nas mãos do estado. O estado deve, então, promover, antes de tudo, o bem espiritual dos cidadãos, educá-los para a virtude, e ocupar-se com o seu bem estar material apenas secundária e instrumentalmente. Platão tende a desvalorizar a grandeza militar e comercial, a dominação e a riqueza, idolatrando a grandeza moral. O grande, o verdadeiro político não é - diz Platão - o homem prático e empírico, mas o sábio, o pensador; não realiza tanto as obras exteriores, mas, sobretudo, se preocupa com espiritualizar os homens. Desta maneira é concebido o estado educador de homens virtuosos, segundo as virtudes que se referem a cada classe, respectivamente. Esta educação é dispensada essencialmente às classes superiores - especialmente aos filósofos, a quem cabem as virtudes mais elevadas, e, portanto, a direção da república. Ao contrário, o estado em nada se interessa - ao menos positivamente - pelo povo, pelo vulgo, pela plebe, cuja formação é inteiramente material e subordinada, consistindo sua virtude apenas na obediência, visto a alma concupiscível estar sujeita à alma racional.
A educação das classes superiores importa, fundamentalmente, música e ginástica. A música - abrangendo também a poesia, a história, etc., e, em geral, todas as atividades presididas pelas Musas - é, todavia, cultivada apenas para fins práticos e morais. Deveria ela equilibrar, com a sua natureza gentil e civilizadora, a ação oposta, fortificadora, da ginástica. Platão reconhece a importância da ginástica, mas não passa de uma importância instrumental e parcial, pois o prevalecer da cultura física do corpo torna os homens grosseiros e materiais. Daí a sua aversão ao culto idolátrico dos exercícios físicos, que foi um dos indícios da decadência grega.
A Religião e a Arte
A idéia do Bem seria o centro da religião platônica. Seu culto essencial é representado pela ciência e, portanto, pela virtude que deriva necessariamente da ciência. Ao lado, e subordinadas a esta espécie de Deus supremo, estão as demais idéias, denominadas por Platão, deuses eternos. Entretanto, este absoluto - o Bem e as idéias - embora transcendente, espiritual e ético, não pode tornar-se objeto de religião, nem sequer da religião assim chamada natural, dadas a sua impersonalidades e inatividade a respeito do mundo.
Quanto à avaliação da religião positiva, Platão hostiliza o antromorfismo, até querer banidos de seu estado ideal os poetas, inclusive Homero, pelos mitos fantásticos e imorais, narrados em torno dos deuses e dos heróis. Apesar de repelir os deuses da mitologia popular e poética, aceita francamente o politeísmo. É um politeísmo estranho, cujas divindades são os astros e o cosmo, animados e racionais, os assim chamados deuses visíveis, subordinados ao Demiurgo, bem como à idéia do Bem e às outras idéias. Platão pode, pois, conservar - reformada e purificada - a religião helênica, como religião do seu estado ideal.
As doutrinas estéticas de Platão são algo oscilantes entre uma valorização e uma desvalorização da arte. Em todo caso, no conjunto do seu pensamento, em oposição ao seu gênio e ao gênio artístico grego, prevalece a desvalorização por dois motivos, teorético um, prático outro. O motivo teorético é que a arte resultaria como cópia de uma cópia: cópia do mundo empírico, que é já uma cópia do mundo ideal; cópia não de essências, como a ciência, mas de fenômenos. Por conseqüência, a arte deveria ser, gnosiologicamente, inferior à ciência. O motivo prático é que a arte - dada esta sua inferior natureza teorética, impura fonte gnosiológica - torna-se outro tanto danosa no campo moral. Atuando cegamente sobre o sentimento, a arte nos atrai para o verdadeiro, como para o falso, para o bem como para o mal.
Seja como for, encontramos em Platão uma tentativa de valorização da arte em si, sendo considerada a arte como uma espécie de loucura divina, de mania, semelhante à religião e ao amor, ou seja, uma espécie de revelação superior. A arte, pois - como o amor, que tem por objeto a Beleza eterna e os graus que levam até ela - deveria ser um itinerário especial do espírito para o Absoluto e o inteligível, algo como que uma filosofia, porquanto deveria atingir intuitivamente, encarnada em formas sensíveis, aquele mesmo ideal inteligível que a filosofia atinge abstratamente, na sua pureza lógica, conceptual.
A Academia
A escola filosófica fundada por Platão, a Academia, sobreviveu-lhe por quase um milênio, até o VI século d.C. Costuma-se dividi-la - cronologicamente e logicamente - em antiga, média e nova. A antiga academia dura até o ano de 260 a.C., mais ou menos, isto é, quase um século. É governada por discípulos, reitores, sucessores de Platão. A ela pertencem homens insignes e de grande doutrina. Vai-se acentuando a importância da experiência, segundo os interesses do último Platão, como também uma tendência para uma sempre maior sistematização do pensamento platônico, provavelmente também pela influência de Aristóteles .
Segue-se na média academia, que toma uma orientação cética, sobretudo graças a Carnéades (213-128 a.C.). Finalmente, a nova academia volta ao antigo dogmatismo e, depois, orienta-se para o ecletismo, prevalecendo simpatias pitagóricas . Chegamos assim ao princípio da era vulgar. No entanto, a academia platônica sobreviverá ainda e tomará uma última forma e feição com o neoplatonismo. É este o último esforço grandioso do pensamento grego para resolver o problema filosófico, desenvolvendo o dualismo no panteísmo emanatista, e valorizando o elemento religioso positivo, que Platão já tinha valorizado no mito.


Frases de Platão
  • "O belo é o esplendor da verdade".
  • "O que mais vale não é viver, mas viver bem".
  • "Vencer a si próprio é a maior de todas as vitórias".
  • "O amor é uma perigosa doença mental".
  • "Praticar injustiças é pior que sofrê-las".
  • "A harmonia se consegue através da virtude".
  • "Teme a velhice, pois ela nunca vem só".
  • "A educação deve possilibitar ao corpo e à alma toda a perfeição e a beleza que podem ter".